24.8.06

sempre ali

é fácil me achar
nas esquinas
nos butecos
nos palcos de improviso
nos autos dessa vida bandida
num copo de puro malte
- 12 anos e pouco gelo, por favor!
na alça de um fogão de lenha
ou na frutífera colheita de manga madura
na espera de uma carona
(pra onde? não sei)
na lida de uma viola
ou num batuque de um samba assim
sem interesse
na vigília de uma aquarela perdida
ou nos versos de uma poesia ainda não escrita
nos braços de uma certa morena
na cadeira do fundo de um certo cinema
numa talagada de aguardente, dose pequena
na calçada, sentando, sem problema
estou eu

Morena

morena
de onde vem
a tua cor
beleza
de onde vem
o teu perfume
seus olhos são duas nebulosas
onde sempre me perco
morena
de onde vem
o teu beijo
ao teu encontro, morena
soltarei infinitos
fogos de artifício

12.8.06

EU QUERO TE VER DE NOVO

eu quero te ver de novo
onde está você
quero te ver
é tarde, é noite
mas não me importa
eu quero é te ver de novo
eu tenho pressa
tenho pressa de te ver
nas minhas andanças
nas calçadas que percorro
nos discursos que interrompo
eu preciso te ver de novo
é cedo, é dia
mas
por que é tudo tão longe
se pode ser tão simples
nos sonhos que tive
nos dias que passo
eu quero te ver de novo


Catavento

cata
catavento
vento
casa cata
cata
catavento
tempo
tempo passa
sempre
sem resposta
cata
catavento
cata tudo
que há por dentro
cata
catavento
casa
moro longe
vento
sem destino
cara
na esquina
cata
cata tempo
cata
catavento

10.8.06

Copo na mesa

a caravana já passou
o carnaval já passou
já passou minha meia-vida
os sapatos já passaram
já se foi o apito do trem
há muito não vejo o por do sol
(ele também já passou)
passou até o funeral
mas o cortejo não vi
passou a moda
e o violeiro
passou o crime
o roubo
e a falta de caráter
o filme passou
a máfia passou
a boemia com seu jeito deselegante, passou também
o caseiro e o megalatifundiário, também passaram
passou o silêncio, ficou um intervalo
o interlúdio
passou tudo
passou tudo, tudo
restou o tempo
morno, cadente, cru e infiel
e o copo na mesa