31.12.09

Resolução

Fazer as coisas certas, na hora certa
Tomar menos remédio
Evitar confusão
Ser menos preciso, fazer mais poesia
Viver mais
Beber ao mundo
Comer do bom
Viajar por extra-dimensões
Sonhar o sonhável
Gastar o verbo
Ser menos realista, fazer mais poesia
Sorrir mais
Tirar o cavalinho da chuva
Buscar os tempos perdidos
Atirar pedras no vento
Contemplar a vida
Acelerar os impactos positivos
Impedir os impostos
Ser menos hipócrita, fazer mais poesia
Cantar mais
Ter o tempo como aliado
Usar as mazelas de ponta de lança
Praticar o que é sensato, moral
Dirigir pensamentos e idéias
Sentir mais
Amar o que é amável
Ser mais humano, fazer mais poesia
Sofrer menos



Aos 45 minutos do segundo tempo, desejo a todos os leitores um feliz ano novo, boas festas e tudo isso que se diz durante esse período para as pessoas de bem (E viva a convencionice social moderna!)

28.12.09

Fuga em preto e branco

Me furto a memória
das coisas que eu já vivi
e agora me contento
num prazer de estar
onde nunca quero ir

Persigo esses contrastes
num embate inútil
Esqueço o que tenho
pra dizer
e falo as coisas que me
acometem
Me acomodo, sôfrego
Cansei de procurar
mas encontrei, enfim
meu desassossego

Finjo que não sei
Que essa verdade
Enlatada
É saudade
e mais nada


.

Curta

Nada
é constante
A fachada
é perpétua

E frustrante

De repente
tudo
Se convalesce

E permanece


.

27.12.09

Little cry for her

De longe observo
o casal
Ela, contempla a apresentação
o som que ataca aquelas pessoas
todas
Ele, simples, admira
e sorri
ante o sorriso expectador
de sua companhia,
atenta àquela música roque
que fervorosamente invade os corações
solitários
da platéia fiel

Ela, sussurra as letras
que sabe
inclue-se naquela música
incorpora
Ele, atento, não perde um
movimento
de seus cabelos
e de seus lábios cantantes
e sorri

De repente as mãos se tocam
e os olhares se encontram
Tudo é interrompido,
em câmera lenta panorâmica
Percebo que faltam palavras
Que não cabe nenhuma frase
nenhuma conjugação verbal
Mas o momento
magnificamente
é preenchido por um
beijo
Esplêndido!
Abrem-se os olhos, o mundo real é um sorriso
duplo

E que ela perdoe, dele,
aquela timidez
atroz
Bravamente suprimida por olhares
Toques e sentidos
Palavras mudas




26.12.09

Próxima parada

é hora de partir
é hora de sofrer
é hora de sair sem saber ao certo se está tudo bem
hora de deixar para trás a insurreição
de deixar de lado o que estava errado
é hora de manter a cabeça erguida
e os pés no chão

os dias passarão
a cidade ficará inteira na sua mente
porém a cidade é obsoleta
e logo cairá em desuso
a vida continua
sempre em frente, não desiste

e quando sair
apaguem-se as luzes
fechem-se as portas
não retorne
logo

25.12.09

De meu eu

vou acender as velas
deste seu romance
prestarei as devidas homenagens
citarei os grandes autores
darei a palavra a quem for de direito
o esforço vale a pena
e sei que é merecido

afinal, foram tantos erros
tantos desacertos
tantos caminhos mal trilhados
tanta rotina interrompida
nas mais cruéis madrugadas
e um sem número de outras perdições

mas agora vejo que o momento é certo
que a noite não é mais fria
que a forma é definida
que nas trincheiras separatistas
encontrará um novo mundo
os sonhos que não contou
a intocada solução
da qual não desfrutou

e nesse encontro repentino
de tantos e longos desencontros
faça-se a felicidade instantânea
mútua e infinita

waking life

acorde
este não é o seu pesadelo
é real
portanto, acorde
enquanto é tempo

no seu pasto não saltitam mais ovelhas
nem há carneiros pra contar
sua tv só mostra verdades
seu romance é findo
sua poesia sem estética
e sua bandeira a meio mastro

acorde enquanto navegam-se os mares
as redes
acorde enquanto seu dia
não chegou

na vitrola rodam os mesmos discos
da década passada, foi o que restou
seu remédio não faz mais efeito
sua dor não incomoda
nem seu sentimento
e você se pergunta
onde estou?

perto do fim, meu amigo

22.12.09

Mal-do-século passado

me rasgo em versos confusos
sobre um sentimento ambíguo
sentimento intimista
que não me deixa um segundo
em calmo relento
deixa-me, sim, às margens do desespero
de saber dos meios
e não ter certeza do fim

sentimento canibal
corroe a alma por dentro
sem saber ao menos direito
do que sou capaz, ou não
e, desta feita, ilhamo-nos
e partimos em busca de outros
que não sofram do mesmo mal

21.12.09

Insípida

brilho no olhar
de um lago estreito e tranquilo
maravilha ao luar
e o nascer do sol que vamos ver

a fruta madura
que não quer cair
de longe observo
e nada me faz sentir mais
feliz

serei só eu
se não tiver perguntas a fazer
e sem respostas a mais
trarei o meu coração
ao encontro de sua luz

no que caminharei
nobre criatura
mais bela de todas
em seu seguir
por entre mares de morros
por oceanos de tempo
e amores perdidos

serei mero coadjuvante
em seu mundo
nas mais belas orações
das noites sóbrias
e abruptas

e nas paredes deixarei
marcado
do exagero da sua vida
bela e fugaz
a marca de crises e revoluções
e histórias para contar

Forasteiro

complicado de falar
fácil de fazer
triste de acabar
sorte de quem vê
amargo de sentir
difícil de durar
infinito até não mais
importante até aqui

sábio, sábio
devora-me ou te decifro

19.12.09

Poema da despedida precoce

e se você se for sem saber do meu abraço
o eterno e fraterno laço
do carinho, da ternura
do sentimento que mareja meus olhos e preenche meu sorriso?
sem saber que pouca coisa permacerá
restará talvez um pedido, uma súplica, um incessante "por favor, fique"?
sem saber da importância, refletida na minha verborragia, da sua presença interessante?
sem saber da constante e ininterrupta incidência da sua figura
no meu pensamento, no meu dia a dia?
sem saber que um dia eu fui triste mas que deixei de lado a tristeza
abri mão do se perfazer poético, da complacência de meu fardo inegável
pra ser feliz, ao seu lado?

e se você se for um dia sem saber que a minha alegria
não era estampada na poesia e que meu olhar apenas refletia o que eu sentia?
sem saber que nessa minha alegria eu era poeta e não sabia?
sem saber que o outono acabou, o verão já passou mas o amor continua de pé?
sem saber que a saudade é enorme, potente algoz, inacabável
que me ataca por dentro, invadindo e dominando, de certo modo, o meu completo ser?

se você se for sem saber do meu discurso de paixão definida
da magnífica física do amor, do complexo e completo querer?
sem saber que é verdade?
sem saber que é uma vontade louca
de ter o seu sorriso agora, largo e despretensioso
amável e fervoroso, junto ao meu?

Clima

Involuntariamente
Pego me a pensar em você
Do dia nublado que vejo
Nasce o sorriso discreto em meu rosto
No rádio toca você
Em ondas de FM

O sol resplandece, tímido
Por entre as nuvens
E no céu
O tempo brinca com o tempo

Preciosa

E naquele sorriso vi
o que nunca havia visto
minha alma cálida
latente por um filete de esperança
cheia de cor e sabor
naquele momento
de horas diversas deveras
faço verso e prosa
de um dia não ter mais
que procurar
o que achei agora em nós

perdido em pensamentos
cego em desvantagem
ascende-me a luz
da clariluminescência
a veracidade digna
penetra meu ser
infante e destemido
então preparo-me
para o instante final
de um certo dia
um certo mês
de um ano tal

na mais repleta
e amiúde felicidade
o não apanágio de um
poeta tristonho
que ocorre em
desalento desencanto
estranho
e finge que não é



(para você...)

A verdade

a verdade será dita em poucas palavras
em frases de baixo calibre
a verdade será traduzida
em vários idiomas
porque a verdade é universal

e a verdade cairá como um raio
na mente dos incautos
atingirá a mente, a alma
e todo o resto

a verdade será lenta
preterida e incômoda
trará alegria e descontentamento

a verdade será transmitida ao vivo
e trará boa noite para a população
a verdade será malograda, mal interpretada
a verdade dará bons índices de audiência

a verdade será convincente
será morna e estúpida
a verdade é um barbante incandescente
a verdade trará riqueza e poder

a verdade nos tornará dignos
a verdade será irrefutável
a verdade será daqui a pouco

16.12.09

Situação

E neste instante, e em tantos outros
em que minha alma é plena
e o verbo é pouco
nada direi, senão o sentir
que é antes de tudo
o que é verdade

Mesmo sabendo que não terei respaldo
que não serei premiado
deixo neste papel o meu legado
a minha parcimônia de lado
e jogo
ao vento e aos quatro cantos
o que me é havido
dentro deste coração

O alívio não será imediato
a história é triste, complexa
são palavras, sentidos, sintomas
coisas que somente acontecem
dentro da gente
e que não sabemos explicar

Capital

O lado
de lá
É mais perto
Ou
É longe demais
para sabermos
Ao certo?

A meta
é precisa
desta forma
Ou imprecisamente
forma-se a meta?

Acúmulos
vastos
trazem beleza
Ou beleza vasta
acumula tristeza?

Sem saber
a verdade
perdemos a fidelidade
Ou a fidelidade
perdeu-se
Na verdade?

15.12.09

Inspire Respire

Inspire
Respire
Solte
Tudo agora

Inspiração
Inspiração
Prenda a inspiração
Solte assim que for a hora

Respiração
Respiração
Solte a respiração
Prenda quando for embora

Ação
Respire
Inspire

E exale
E exale....

13.12.09

O que não (está errado)

já não me importam as mazelas
as opinões ingratas
e os palpites mal ditos

serpico-me de más companhias
já que as belas estão rodando por aí
sem serem nunca notadas

infiltrarei nas trincheiras
derrubarei parâmetros
prognósticos
e contradissências

será maculada
perjorativa e indócil
a vida daqui pra frente

não haverá perdoação
teremos pedras e fogueira
pra quem ousar
nos libertar

12.12.09

Assim caminho, humanidade

que culpa eu tenho de ser assim
que culpa tenho de ser eu mesmo
não posso me martirizar
mas eu quero ir até o fim

não posso achar que fiquei louco
que perdi a cabeça
que não lutei o bastante
ou que meu esforço foi pouco

prefiro acreditar que sou assim
um poeta inconsolável
uma tristeza insondável
carrego o mundo dentro de mim

então me abrace forte
e não me solte
sou de câncer, de vênus, londres
sou sombrio e invalidado
sou o que restou
de mim mesmo
e das minhas longas viagens

trago comigo lembranças
de tempos passados
e de tempos futuros
de onde sou? não sei
para onde vou? não sei
respondo quando voltar

10.12.09

Re-verso

de onde vem esse rapaz
que de repente me ama
sem mais nem menos
que se declara de dia
de noite
de tardinha
e aos feriados religiosos

sinto que ele me quer
tenho medo porém
desse querer
dessa vontade de me ver
como sua mulher

que fiz pra merecer
ser o que ele mais deseja
o que mais almeja?

forte é sua inspiração
causo imensos poemas
em sua cabeça
poemas bonitos
sinceros

mas nada sei
porque sou frágil
e me interponho
sobre seus pensamentos

só que ninguém nasce
sabendo
e entretanto compreendo
que muita gente
cresce tentando
vive querendo
e morre amando

Afazer

eu não sei mentir
se estou sorrindo
é que estou feliz
se não vejo problemas
então não sinto tristezas

agora que tenho saudades
perguntas se é de você
e nisso não me engano
nem reclamo

Outono no final

e essa era a saudade
daquela que mata
fere, mutila
maltrata
das que consomem
não perdoam
invadem
sincera e perfeita
é aquela
incerta
saudade

incolume
crua
cura e destroe
interrompe, corroe
afeta
e sobrevive
aceita e corrompe

machuca
sem parecer
sem preceder
e some




dedicada àqueles que (saudosamente) comparecem sempre no meu pensamento

8.12.09

Tudo que tinha de ser

não posso mais esperar
sei que não há mais jeito
que não há mais tempo
sei que estou errado
que andei afobado
mas era tudo encantamento
era tudo o que tinha de ser

mas sei que não era o momento
não tive talento
pra dizer o que tinha de ser
posso ter deixado
de dizer algumas palavras
e já que outras disse dobrado
reflito e desengano-me
mas era só o que me ocorria
e por dentro eu sofria
amargurado
sem saber o que fazer
mas de longe eu via acontecer
tudo o que tinha de ser

trago portanto meu perdão
e o meu semblante cálido
aceita a pública punição
quero infinitamente te ver
quero tocar-te
mesmo sem merecer

e mesmo que não a pertença
deixo marcado no meu território
sua ligeira passagem
mesmo depois de saber de tudo que tinha de ser
o seu caminho ainda é cativante
e a esperança ainda é morna


em homenagem a uma cantora

E SE NÃO HOUVER SAÍDA

E se as rosas murcharem
se a lua não te esperar
se o mar perder a cor
e se o céu ficar vermelho
e se a queda não for dolorida
e se o dia não for mais cinzento
se o anel não servir
se a canção não entoar
e se o poema não rimar
e se a parede ruir
e se o chão se abrir
e se não fizer sentido
e se não for falado
e se não sair
e se não for o combinado
e se não sair

por que mentiria
se não fosse verdade
se não tivesse vontade
se não tomasse partido
se não tivesse seguido
se não fosse falado
e se não sair

para onde iria
se não fosse pra longe
se não tivesse ido
por onde iria
se não houvesse caminho
se não tivesse espinho
se não fosse mentira
e se não fosse verdade
e se não fosse seguir
e se não partir
e se não sair

6.12.09

Traga o verão contigo

quando acordar pela manhã
quero que me traga apenas
a verdade

quero que sorria e me diga
o que se passou
e o que virá
o que ainda não foi
e tudo que ainda será

ao cair da tarde
quero que me chame
pra dançar
quero que sussurre
em meus ouvidos
as coisas boas que me aguardam

e quando a noite chegar
sorrateira
quero que feche os olhos
e lentamente, ao abri-los
comece a revolução
em mim

4.12.09

Sem querer

o amor é azul
mas não tenho certeza
às vezes ele me deixa
vermelho

Desconcerto

queria mesmo ver-te
abraçar-te
gritar insanamente
que amo-te
que quero-te
mas neste momento
e em tantos outros
abandonaste meu pequenino
coração

você faz-me falta
mas perde seu tempo
em longas viagens
de volta
ao que não teve fim
mas ao que à casa retorne
terá sempre meu abraço
aberto e mormente
esperando-te ansioso

e nem que para haver-te
novamente
nos meus braços
precise esperar
a eternidade
ainda assim serei um dia
feliz

posterga-me portanto
o sentimento mór
da minha paz interior
e agora ora confesso-me com
coveiros
ora com plantas do meu jardim
meu desabafo é um sete de copas
sinto-me na perdição do meu juízo
subo montanhas
desço escadas
em busca de respostas inglórias
e afogo-me nas incertezas
mais uma vez

mas no fundo desejo
que a eternidade
não demore a acontecer
ou que você tome logo
de volta
sua metade no terreno
selvagem do meu coração

Para um dia morrer de amor

o que é preciso
para que fiquemos juntos
infinitamente juntos?

como pode ser
assim
se não tenho mais
medo de ser feliz?

não fracasso de antemão
pois ainda me restam forças
e parece que você
ainda não entendeu

esforço-me para não sofrer
mas seu eu tiver que morrer
que seja de amor

porque o amor é simples
não tem porém
e nem talvez
amor é paz
é coisa
é tanto

eu só queria que você
soubesse
que meu coração é aberto
um disco inacabado
nunca lançado
que nunca fez sucesso
com as canções que lhe escrevo
mas que nunca cantei
pois não sei cantar

sei é querer
e eu te quero demais

O que não tem jeito

morro de amores
e de medos
sinto
muito
mas é inútil

às vezes perco o sono
interrompo sonhos
que não queria ter

sou um estranho em minha própria casa
perco-me em lugares que conheço bem
perco-me
e desisto de me encontrar

meu rosto é marcado
pela desilusão
pela tristeza
de ver o mundo cinza
sem graça e sem cor

tenho medos
mas morro de amores

e de dúvidas

1.12.09

A carta

escrevo a mão uma carta
sem muita convicção
pra quem?
não sei

é uma carta sem sentimentos
sem objetivo definido
apenas escrevo
e rapidamente acabo

não espero resposta
pois a resposta está dentro de mim
e eu sei que ela é curta
e sem graça

quisera eu ter uma máquina de escrever
escreveria mil cartas
todas as noites
de todas as formas e cores
mas escrevo a mão
com pressa
e sem pensar
nesta noite impróspera

inspiro-me em imagens soltas
quadráticas
estáticas e inertes
e escrevo a mão
uma carta
pra ninguém

não tenho máquina
sofro sozinho
escrevendo uma carta