29.1.10

05 ANOS


05 anos se passaram desde o primeiro post. Na época blog era o hype do momento. Chegar no meio dos amigos e dizer: "Eu tenho um blog" era um meio muito bom de se chamar a atenção para si mesmo.

Entretanto, o intuito do blog nunca foi esse. Expandir os limites da poesia, comunicar, incentivar, mostrar, inspirar. Isso sim.

Não vamos comemorar os 05 anos, porém. Nem bater palmas, nem soprar velas. Vamos comemorar que há mais 05 anos por vir. Mais 10, 15. Mais décadas de inspiração, de bons frutos, de boas energias e pensamentos sempre positivos. Muita pureza e muita poesia nesses corações.

Forte abraço a todos os desvalidos desse Brasil.

Ciclo

Nasce
A vida porca
Na fria sarjeta
Debaixo do poste
O lixo suburbano
A desigualdade
De porre
O pobre
Morre


.

28.1.10

Na cabeça e no coração

Vai se desfazendo com cuidado

Na hora exata e sem pressa

Um martírio de vários dias

Que enxerga uma hora o fim


A finalidade em si é inversa

Suprime qualquer investida

Ataca sorrateira, de surpresa

Deixa marcas

Feridas que trarão lembranças


Não há como fugir

Relapso obstáculo

Incremento de um simples segundo

De um momento, uma maneira

Uma vida inteira

Sem sentir toma conta

Afasta os piores medos

Atrai as mais variadas incertezas


Saudade passageira

De nada te adianta

Ser tão exigente

Mas cedo ou tarde

Necessária

Correlata em seu ciclo

Infiltra nos passaportes

E não impõe desvantagem


Deixa feridas

Lembranças que trarão saudade


.

Cadeira vazia


Obediente em seu canto

Em busca de um contato

A cadeira vazia permanece

Descansa sem se cansar

Espera paciente

O dono do lugar

Que na verdade

Nunca saiu

Só demora a voltar

A cadeira vazia está lá

No mesmo local


Sua solidão não dói

Nem aflige

Trata logo de quedar

No dia, na madrugada

Anos a fio

Invernos, verões


Mas permanece vazia

Inútil

Em pensamentos já foi trono

Já se aboliu sua

Escravatura

Conspirou-se

Na sua companhia

Foi apoio de muito conselho

Ideais, levantes

Esconde o idílio do passar do tempo

Eras se passam

Pessoas vão e não volvem


E vazia fica

A cadeira antiga

Que espera paciente

O dono do lugar


.

Simpatetico

Um descompasso

O desperdício

Na sua tela

A falta de compromisso


E sobra sal e mar

Um olor, horror

Pedaços de mal feitorias

Distribui ângulos

Primos, incorretos


Símbolos sonoros

Suaves, predicados

O resto é prejuízo


.

O incrível protesto

Meu protesto involuntário

Não vacila nem adorna

Sai vazio e cabisbaixo

E uma falácia então se torna


Cai triste e amargurado

Seu sintoma de derrota

Sua alvura natural

Sua verve poliglota


Mas caminha desolado

Meu protesto, protestinho

Não era mesmo de nada

Só mais um grito sozinho


Uma trovoada desprendida

À toa, pelo visto

Um costume, um desabafo

Um grito de improviso


Mas o apelo é transigente

E começa a tomar forma

É desvalido agora

Mas em breve se contorna


E se desfaz


.

23.1.10

Triste mentira

Quem foi que te disse

Da sua imperfeição o elogio?

Da sua ingratidão

O sorriso satisfeito?

Do seu carnaval

O frevo frenético?


Quem lhe mentiu

Falando das suas artes modernas

Dos seus objetivos claros

E das suas falas sinceras?

Do seu trejeito incomum

Da sua briga imoral

Do seu espelho

Seu narcisismo fatal?


Não te disseram

O que sentem

Fajutos

Larápios

Te agradam com o melhor vinho

A boa costela de carneiro

Mas

Te atacam com a língua supérflua

Nas suas costas recém viradas


Quem foi que te disse

Do seu olhar o

Sentimento?

Da sua alma fraquejante

O aquecimento?

Na sua solidão

O acalanto?

No seu terremoto

A salvação?


.

Polêmica

a polêmica
estática
não foi transferida
a tempo
causou
mexeu
e parou

virou alvoroço
virou fofoca
na mão dos insensíveis
e pobres mortais

.

A rosa

A rosa faliu

A flor do teu nome

Não se despediu

Criou pranto

Na soleira

E foi embora


A rosa perdeu

Saiu na escuridão

Vigiou

Curou a enfermidade

De seu coração

E fugiu


A rosa mentiu

Galhofas e inverdades

Cansaço

Sentiu que era tarde

Que não tinha medo

E sumiu na vida


A rosa esqueceu

De quem a tratou

De noite é sorrateira

E de dia se manifesta

Nefasta

Cai no próprio esquecimento


A rosa partiu

Acocorada

Caiu do seu ramalhete

Do seu buquê

E agora não é mais flor

Só carrega espinhos

E mágoas


.

20.1.10

Sabedoria virtual

São grandes as incertezas desta vida

Mas que nada nos afaste de nós mesmos

São obscuras, predatórias

As mudanças


O confinamento, indolente

Mantém o refém de espírito fraco

Numa redoma de impessoalidade

Catastrófico, seria dizer

Se não mais sincero, por si só


Onde estão as revoluções?

Os gritos de guerra, a revolta

O impasse?


Pouco se sabe

Nessa onda de full-knowledge

Verdades quase perfeitas

Notícias de anteontem sem edição


Cabe a eles o diagnóstico

Pois, expertises a parte,

Somos ignorantes de pai e mãe


.

Sua nova cor

-->
Espero ansioso a sua volta
Seu retorno
Sua nova passagem
Seu abraço, seu contato
Seu novo som

Aguardo em tons de azul
Índigo
Que você venha
Com a cabeça feita
Seu novo modelo
E sua nova cor

Preencherei a espera
Com sua lembrança
Naquela interior
E amiúde
Certeza
Da sua não tardia
Presença

Aguardo o seu dia
Sua hora na minha vida
Seu longo estar
Sua maneira de vir
E mudar
Tudo ao meu redor

Quero saber de você
De seu mundo
Do seu por do sol
Da sua lua
Do som do seu mar
Da sua nova cor


18.1.10

Domingo

Na bela manhã de domingo

A relva ainda suada

Destila seu presente

Entre os ruminantes

Que permanecem

Em sua pacata existência


Nas fazendas e latifúndios

Não se diz nada além do essencial

“Corte mais cana, Manel”

“Lace o touro, Juvenal”

“Solte as vacas no pasto de baixo, Junim”

Não sem alegria

O vaqueiro interrompe a ordenha

Para apreciar o dia


As pessoas nas portas das casas

Alegremente desejam seu bom dia

Aos transeuntes

Varrem folhas, calçadas

Enquanto o feijão cozinha no fogo

No velho assovio da pressão


A estrada silencia

Com a passagem do ciclista

Que respeita, sobretudo

Aquele equilíbrio intimista


E na cidade

Os pedestres se acotovelam

Na disputa da surpresa do almoço

“O frango é pouco, minha gente

façam fila que ‘tá acabando de assar”

Diz o moço da padaria


Enquanto isso, o apito do trem

Anuncia mais uma vez

A interrupção diária

Do progresso


.

16.1.10

Crime sem castigo

Cometi um crime

Cujo único culpado sou eu

Confesso e me entrego

Quero cumprir a pena devida

Não há testemunhas

Nem vítimas

A vítima sou eu

As provas veladas

Carrego comigo

Não haverá fuga

Acusem-me

Façamos a reconstituição

Julguem-me e condenem-me

Meu crime não está nos códigos


Cometi um crime

Amei demais


.

Estado de graça

o aviso de pare

a placa de contramão

a via interrompida

o sentido contrário

o dia que nasce

a noite que se vai

o alcoólatra são

o errado itinerário

o medo costumeiro

o pedido autoritário

o tiro certeiro

o alvo aleatório

a fama do impostor

o crime compensado

o ocaso ingrato

o fim revelador

o vento no corredor

sem janela sem nada

a brisa terrestre

o clima atraente

a montanha do cipestre

o grito do poeta

a sinceridade do maestro

o conclave da decisão

a intensa batalha

a imensa crisálida

a grata fortuna

a preciosa rotina

o cansativo trabalho

o superior sobressalto

a síndica maldita

a esquina que não fecha

a loja das conveniências

a fruta sem bicho

a criatura sem nicho

sem ninho sem nada

a palavra errada

a hora que passa

o prefeito aceitador

o sacristão pecador

o imposto isento

o cretino deposto

a última esperança da terra

a verdade intensa

o enterro sem choro

sem vela sem nada

o nosso sentimento terreno

e a chama que não se apaga


.

Tenso

olho para o céu
em busca de algum tipo
de esperança vã
conclamo perdões
antecipo atrasos
cancelo compromissos
e disparo balas anônimas
com minha metralhadora
taquilárica

aviso antes de tudo
do meu jeito especial
maltrato a situação
comporto-me mal
insinuo indiscrições
e sombreios
de pura discórdia

mantenho a tensão
tento não me envolver
ando pelas ruas
sem prestar muita atenção
sem pestanejar
e sem causar muito impacto
nas pessoas

.

15.1.10

A metade exata

Na metade exata

Percebo que falta muita coisa

Falta tempo, falta espaço

Sobra o silêncio


Na próxima metade

Quero correr menos risco

Prefiro ser mais fiel

Ao que eu sinto

Morrer e viver de amor


Não chore não, criatura

Que ainda sou seu admirador

Que espera sorridente

Seu regresso pacificador


Falta pouco agora

O pior já passou

Somos infantes

Mas superamos todas as possibilidades


.

Festa interior

Aguardo o convite

Para um festejo particular

Não sou bem vindo

Sou em estranho em minha própria alma

Carrego comigo estranhos tormentos

Que não se calam um segundo


Pratico o discurso

Diante do espelho

Que insiste em refletir a mim mesmo

Nesse baralho de naipes marcados

Sou um ilegítimo filho do rei

Preposto insignificante da luta armada


Passo os dias vendado

Para não me sentir tão ansioso

Silenciosamente me acomodo numa cama

E preparo o espírito para a noite seguinte


Quebro a promessa

Afundo num licor

Sem cerimônia alguma


.

14.1.10

O não-soneto da saudade

-->
E ela vai
Caminhando em meus pensamentos
Percorre meu momento
Louco e compenetrado
De lembrança focada

Lá vai ela
Naquela esquina e todas mais
Naquele rosto e todos mais
Em seu perfume
Sem nome
E pra que nome?

Lá vai ela
Morena, singela
Encantadoramente bela
Passeando nessa outrora
Invadindo o que não é meu
Perturbando meu ócio
Meu instante de criação
E ela vai
Tragada pelo tempo
Na medida do que é
Da estreita e ligeira distância

Vai, menina moça
E apareça sempre que quiser



Horas a fio

A primavera se foi

Agora observo o tempo

Observo a cidade

Contemplo o concreto

E interpreto

Do meu modo


No beiral do arranha-céu

Antecipo a tormenta

A vida escurece

Como as nuvens

E demora a passar




.

13.1.10

Presente de troiano

Para você

Uma sombra e uma água fresca

Um colírio e um cigarro

Um pedaço de bolo

Um laço e uma hipoteca

Na casa do lago


Para você

Um perdido e um mapa astral

Uma façanha e um chafariz

Um sistema e um convite

Pra festa do governador


Para você

O cabide e o empregado

Um correio e um inteiro

A semana retrasada

E o dia de amanhã


Para você

Um pedido de desculpas

Uma curva no escanteio

A lástima derradeira

No minuto final


Para você

Aquele abraço gostoso

O velho enxadrista na praça

A aflição do leitor pelo epílogo

No livro emprestado da biblioteca

Municipal


Para você

A continência do general

O resgate e o funeral

A rosa branca e a saúva

A fruta e o supra-sumo

Na manchete do jornal


.

12.1.10

Amor nos tempos da inflação

A crise

Atingiu o amor

Não sorri

Não pega nessa mão

Não tem abraço

Só críticas construtivas

E perguntas

Dúvidas sem planos B

Nas mais castas plataformas

O amor específico

Não sem mais alternativa

É evidente

Seu decaimento

Sua falta de validade

Perdeu o amor

E invadiu

As terras longínquas

Porque a crise é grossa

Rude

E a crise não tem jeito

A crise atingiu o amor

No caminho pra casa



.

11.1.10

Telefone - O sem solução

Espero por aqui
um ligação que não vai acontecer
assumo que é triste
sofrer nesta hora
que insiste
ah, insiste
em permanecer
e ser a mais dolorosa

Futrico no papel
desenho, rabisco
imagino cavalos e castelos
belas montanhas
esferográficas
enquanto espero

O telefone não toca
gesticulo, sussurro
Verbalizo mil impaciências
Monólogo estranho
Perante o aparelho
de encurtar distâncias

A mesa recebe meu impulso
de violência desmedida
desferida
sem querer
E o telefone que insiste
ah, insiste
em se manter calado
é um bichinho obstinado
sabe de seu poder
que modifica
e mudo fica

Quebra logo esse anseio
meu parceiro
Tira de mim a aflição
toca o seu toque indiscutível
o seu chamado
me leva ao encontro
do que eu mais quero

Mas não acontece
suas linhas ocupadas
distâncias importantes
barreiras transpostas
sem jura nem mora
meu caso é um desnexo
um simplesmente
uma espera

E espero amargamente
ao lado de um telefone que não toca
um mensagem de alguém
a fonética grata
digna da minha saudade


.

100 mais para o momento

Completa-se com este a centena de postagens. Agradeço aos que visitaram, aos que visitam e aos que visitarão. Aos que agrado, aos que repudiam, aos que palpitam, aos que comentam, aos que se calam, aos que inspiro, aos que me inspiram, aos que somem, aos que aparecem. Aos que refletem, àqueles que confirmam, aos que negam, aos que incentivam, aos que desistem, aos que tentam, aos que conseguem. Enfim. Obrigado a todos, sem exceção.

Prossigamos com a vida, que a vida é alegria, e viver é poesia.

Abraços saudosos.


PS - estamos só começando!



Título da foto: Apreciando o momento. by http://juliofotos.com/

10.1.10

Aprendizado

Quando vamos aprender

Desta louca rotina

A verdade maligna

O presente consistente

A identidade putrefata

A mente inconseqüente

E os perigos e mistérios

De sermos apenas humanos

De sermos ainda normais

Intransitivos

A divina perfeição

Encurtada pela vida

Clara e límpida, audível

Sonora no auto-falante


Quando vamos aprender

Do itinerário que não está nos mapas

Do arrependimento e do medo

Da estrutura falida

Da magia corrompida

Do instinto sombrio

Inerte

Se fossemos apenas humanos

Seria mais fácil


Quando vamos aprender

A lidar com o tempo

A evitar a incerteza do futuro

Do sangramento incendiário

Da perda irredutível

O cristal que não se quebra

O silêncio que refresca

A morte que não agrada

Nos tomates atirados

No pano que cerra

Vamos aprender


Vamos sim, um dia, aprender

A sermos humanos

A sermos mais nós

Do que os outros

Assim será fácil

Aprender


E sobreviver



.

8.1.10

Manhã seguinte

faço um poema
pra lembrar de nós dois
de nossa viagem
de nossa saudade
da nossa imensa sensatez
crio um verso
empírico, honesto
deste gesto
e declamo
sem jeito
estes e outros sonetos
sentencio portanto
a palavra
subscrevo-me
perante o adjetivo
e trago uma sinceridade
marcada
na ponta do lápis



7.1.10

Nono

Sigo nesta lida

Sem parar pra pensar

Convoco minhas forças

Meu sentimento e meu íntimo ser

Neste papel que me é cúmplice

Nesta meia-vida


Aflijo-me sem porquê

Não sofro, mas é farta a dor

Minhas chagas de outrora

Insensíveis feridas

Que agora se fecham

Cessam e se calam


Minha alma agora é particular

Se renova a todo momento

Crê no que sinto e se compartilha

Não falo mais sobre problemas

Nem sobre prognósticos falsos

Apenas lembranças ficam

O futuro é belo

E incipiente

Logo chegará carregado da tão aguardada

Novidade




.

O incerto menos errado

Na crueldade deste momento

Insanamente me pergunto

Se este é mesmo o meu lugar

Ou se é hora de voltar


Cheguei ao patamar da indiscrição

Já perdi o padrão

O certo o errado e todo o resto

Mas então

Acertei pelo menos o que devia

Decerto que não era o bastante

Nunca saberei


Choro, mas a lágrima é pouca

Grito, mas a voz é fria

Fujo, e me encontro

Noutras paragens



.

6.1.10

A farra dos bichos

O grilo caiçara

Entoa no ritmo

Da cigarra

A canção da nova manhã

Naquela mesma

Samambaia

Caçoa do orvalho

Ajeita a rebeca

E samba sem parar

Sapateia

Gira, torna

Na festa da finda madrugada

O dia clareia

O sol claribento serpenteia

Dentre as folhas

E presenteia

A todos naquela pequena aldeia

Com outro capítulo

Fidedigno

Da feliz e infinitamente

Contínua

Canção da vida




.

Dias desses

Perdi-me nessas trilhas
Insensatas
Agora invento desculpas
Pra não te ver
Sou fraco e perdi a razão
Que eu nunca tive, afinal
Sou delegado
Sou faraó
Mando e desmando neste sertão
Mas aqui dentro
Neste coraçãozinho
Quem põe ordem não sou eu
Tento me entender
Mas preciso demais
Da sua presença

O peito vazio
Cabresto sem criação
Mares por onde navego
Sem pensar em nada
Surgem imagens
Lembranças vagas
Daqueles dias



.

5.1.10

Desconstrução

A cidade
Não mudou de todo
A cidade é a mesma
Mesmo asfalto
Mesmo concreto
Mesma construção
A feira é a mesma
Do pastel e do caldo
A cidade ficou
Perdida no tempo
É a mesma
De sempre
Mudaram as pessoas
A cidade é um problema
Urbano
Problema crucial
Social
O cidadão não é mais o mesmo
O cidadão mudou
O cidadão não ama mais
Consome
Deglute
E destrói
A cidade ficou
Menos o cidadão
A igreja ainda tem pracinha
E na praça joga-se a dama
Dia e noite, se joga
Mas o táxi não tem ponto
Nem preço
A cidade era moderna
Ficou histórica
Ficou e não mudou
Mas mudaram as pessoas
As pessoas não querem mais
As pessoas se esbarram
Se desencontram
E consomem
E o cidadão
Pacato alborígene ulterior da conurbação ultrapassada
O cidadão se consome
Consome a cidade
E destrói

.

4.1.10

Auditoria

Vejo amigos

Vejo pessoas

Vejo fronteiras sendo ultrapassadas

Vejo que a vida continuou

Que o poeta não calou

Que o dia permaneceu

Mesmo após a noite

Não entendo o que aconteceu

Como tudo mudou

As pessoas continuam sorrindo

A aguardente ainda satisfaz

Os pedaços foram juntados

O desabafo não faz mais sentido

O mar perdeu sua revolta

Olho em volta e só vejo

Felicidade

Quero gritar

Mas não há voz, nem há motivo

De repente sinto

Como se tivesse acabado de chegar

Em casa

Dia de sol na cidade grande

Loucura

Mais medo na urbe

A ditadura

O desprezo

O inscrito no panfleto

A mensagem sorrateira

A intenção a intervenção

O pedaço de papel

Literatura



.