6.5.10

O moço

a gente não vai ser enganada de novo
pelo moço que diz fazer milagre
a situação regride e a turma se lasca
a ferida irrompe na pele cansada

o moço diz que não tem que ter medo
que a loucura é passageira, mera
não desesperais, pois
mas a gente se desespera
perde o rumo, doi a canela
doi a bexiga
doi o delgado

a gente nem tem onde esconder
a fala é seca de tanto clamar
já perde perdão pelos erros dos outros
a gente se une para se desunir
fica distante e parte para lá
para cá
nem sabe de onde parte
só parte

o moço vomita suas blasfemias
ligeirezas acerca das vidas da gente
seu porco coração de napoleão
e sua alma humana indigestível

mas porém o moço nem sonha
que a gente sabe de tudo
que não tem segredo entre as paredes
o reboco delator
recita incessantemente
que a queda do moço
é o prenúncio do fim

o auge do moço
é só hoje

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