9.5.10

Sensações

Perder a esperança de encontrar

Escolher um canto para dormir

Deixar um motivo pairar no ar

Sonhar que a vida ainda vai sorrir

Manter o destino em seu lugar

Pensar que o horizonte tentou fugir

Matar a saudade de não voltar

Guardar a lembrança de quem vi partir...

6.5.10

Não tem mais como mudar

Não tem mais como mudar
Não tem mais como
Não tem mais
Não tem
Não
Tem como não mais mudar
Tem como não mais
Tem como não
Tem como
Tem
Mais não mudar como tem
Mais não mudar como
Mais não mudar
Mais não
Mais
Como mudar não tem mais
Como mudar não tem
Como mudar não
Como mudar
Como
Mudar como tem mais não
Mudar como tem mais
Mudar como tem
Mudar como
Mudar


.

O moço

a gente não vai ser enganada de novo
pelo moço que diz fazer milagre
a situação regride e a turma se lasca
a ferida irrompe na pele cansada

o moço diz que não tem que ter medo
que a loucura é passageira, mera
não desesperais, pois
mas a gente se desespera
perde o rumo, doi a canela
doi a bexiga
doi o delgado

a gente nem tem onde esconder
a fala é seca de tanto clamar
já perde perdão pelos erros dos outros
a gente se une para se desunir
fica distante e parte para lá
para cá
nem sabe de onde parte
só parte

o moço vomita suas blasfemias
ligeirezas acerca das vidas da gente
seu porco coração de napoleão
e sua alma humana indigestível

mas porém o moço nem sonha
que a gente sabe de tudo
que não tem segredo entre as paredes
o reboco delator
recita incessantemente
que a queda do moço
é o prenúncio do fim

o auge do moço
é só hoje

.

3.5.10

Ser ou não é

o imprevisto malfeito
predicado aviso
invalidado conserto
amargurado compromisso
o efeito
malvisto desespero
sonegado e preciso
o sentido
aberto sombrio
inegável feitio
console submisso
o corredor
inerte afronte
mequetrefe e infame
insuficiente anúncio
o doer
a morte
falta de sorte


.

Poema do há quem diga

se te vejo, nem reparo
se percebo, nem reclamo
se me viro, nem perdoo
se me afasto, nem me lembro
se eu peço, nem espero
se confirmo, nem te digo
se me acalmo, nem respiro
se eu peco, nem soluço
se eu faço, nem frequento
se me acabo, nem me acho
se te falo, nem permito
se me largo, nem me busco
se adianto, nem atraso
se mal digo, nem tolero
se aplaudo, nem me abro
se te quero, não se afaste

.

13.4.10

Dor que não há

te espero mesmo enquanto
a lágrima escorre aqui
no canto
que não queima
nem dói
pranto sem sofredor
qual dia qual data
não sabe quando
se onde estiver
eu tiver sede
a sede da sua imagem
eu mato com a água
que verte da minha verdade

mas também não ligo
porque já estou no nosso verão
tarda a noite delonga o dia
e fico aqui a te espiar
dentre recortes remanescentes
marcas então frequentes
sonhos recorrentes
te vejo e não me esqueço
e assim eu luto em vida
e nesta lida serena
apaixonado permaneço

Antônimos anônimos

na cabeça uma idéia
fixa
na idéia um descompasso
fixo

eu nem sei mais o que dizer
sem dúvida
nem a perda nos consola
sem dádiva
somente o sol se ilumina
ilúdica
e a noite a sombra predomina
intacta

no semblante uma tormenta
atônita
na tormenta um holofote
atônito

.

6.4.10

Pêndulo 11

o desafeto
interrompe o andamento
e todo o chão se abre
os pés se perdem
acaba a monotonia
quem sabe um pedido se socorro
e a situação
vira ironia?

.

Tadinha da poesia

E estava lá
a poesia
precisando ser lida
mas ninguém se manifestou
decerto que ninguém sabia
daquela poesia
que estava lá
e não se lia

E perdeu a magia
e foi ficando aflita
porque ninguém
manifestava
ninguém a lia
ninguém sabia

Era uma poesia
e ninguém sabia
tinha cara de prosa
e jeito de samba
tinha até melodia
mas era um gesto
uma poesia

E ficou lá
esperando a visita
de um alguém que a lesse
que a visse
e que soubesse que ela existia
que era uma poesia
algo que só nela havia
uma coisa incerta, cara e repleta
de poesia

Veja você

perfeito
preconceito
onde está o defeito?

cansaço
espaço
onde está o atraso?

sossego
desapego
onde está o pelego ?

besteira
maneira
onde está a coceira?

apuro
seguro
irmão, onde estará o futuro?

.

Poderio

nada para a procissão
nem os carros
nem a fumaça de seus escapamentos
nem a viagem marcada
nem a chuva graúda
nem mesmo os marimbondos
nem o evento político
ou o discurso apropriado
nem mesmo a produção de aguardente
nada para a procissão

nada para a reza
nem o futuro
nem o pano de fundo
nem mesmo a confissão
nem a viatura policial
nem as alegorias carnavalescas
nem mesmo o silêncio
ou o som da respiração
nem o coito do adultério
nada para a reza

nada para a interrupção
nem mesmo a reza
nem mesmo a procissão

para tudo
só o fim

.

1.4.10

Tragam-me

tragam-me as palavras
aquelas que não fazem falta
porém delas tenho medo
pugentes, pedradas
soam como soa a água maligna
deste mar que não se revolve

tragam-me os benefícios
e eles tragam devagar
injetam seu tempero murcho
no meu corpo semi-cerrado
onde nada encontram
apenas um diagrama sem nexo

tragam-me os pedidos de desculpas
que não vejo de onde vem
consomem o que há de novo
perpetuam carnes e meditações
inércia paralela e imputável
crescem sem se ver

tragam-me os dias
tragam-me as horas
tragam-me meu desejo de sobreviver
tragam-me minha vontade de voar
e nunca devolvem

.
(inspirado no comentário do amigo Auíri)

29.3.10

Traz

traz-me sonho
felicidade e vontade
um tamanho de saudade
clara luz
de muito afinada grandeza

traz-me paz
e eu apenas vivo
levo a passos firmes
agora
uma vida bacana
outrora desregrada

traz-me doçura
e esqueço daqueles bárbaros
a invasão agora é sua
não descansas jamais!
mas porém
tão bem me faz
essa plenitude
alegria plural
que ela me traz

Vida sem prumo

consoante
pertinente
invade a cabeça da gente
dessa gente sem juízo
sem parâmetro
de suas casas ao redor
seu círculo social
mínimo diâmetro

alicerce
apetece
e nada mais se esquece
esquece de prender
e até de soltar
na coleira a raiva inerte
pende para todo lado
e a cidade permanece
deserta

concreto
decerto
e nem o homem é tão esperto
a viga de sua vida na altura correta
nem sempre separa o chão do teto
e brinde aos desterros
para que nunca se intimidem

tempo
vento
há tanto te contemplo
mas nunca se satisfaz
numa luta bárbara pela paz
interior de si contra o medo
e preocupa menos ao ver
a raiz deste problema
ficando para trás


.

Pêndulo 10

a auto-crítica
indefinida
caiu no próprio buraco
e sumiu
gerou polêmica
e o povo protesta
quem sabe um palanque
e a situação
se atesta?

.

23.3.10

Não sei o que não sou

eu sei bem que alguém já lhe disse
e se não disse espero não ser
o profeta destas tais sandices
que nunca cessam, inflamam sofrer
nos nossos corações prepotentes
sem perceber a mágoa resolveu
prevalece, porém não contente
na lágrima que a terra absorveu
e que incomodava deveras
incomodou mais que suas verdades
suas palavras, falácias sinceras
seus descaminhos pela cidade

não há paz no mundo que consiga
afastar-me destes seus dilemas
sofro só porque quero, portanto
espero assim que a vida siga
sem sintoma de quaisquer problemas
sem sombra de dúvida ou pranto

casualmente devoto atenção
ao conselho que dou a mim mesmo
afasta-te de mim, ó perdição
a luta diária que levo a esmo
e é onde preciso permanecer
te esqueço logo pra não padecer
de novo de amor, de ódio, pena
minha vida tão curta, pequena
e que não cabe aqui neste poema

.

(a francisco e a gilberto ...)

22.3.10

Sorriso sem graça

queria mesmo manter um sorriso no rosto
mas nesta situação não dá
a infâmia faminta
a mudez desnecessária
olhos e ouvidos que julgam e maldizem
e são assim
sinceros demais

meu sorriso é lastimável
não convence
sou alvo de chacotas
e mereço
pois meu sorriso é implante
e não convence
meu sorriso é um disfarce
e evapora quando falo verdades

meu sorriso se tornou um ciúme besta
desses de folhetim televisivo
não tem reza que cure
nem face que se oponha
uma franca metáfora
iminente e preparada
resvala de leve nesses corações
e entrega meu sorriso intolerante

meu sorriso também não vê
o menor problema
em permanecer estático
firme em sua condição de sorriso
e consome por dentro
aquilo que não consigo evitar
desgraças a parte
meu sorriso não tem motivo
nem alma
nem graça

.

Pêndulo 9

um descompasso
e o mundo começa a girar
ao contrário
a dívida dúbia
no holerite
e a vida aperta
quem sabe um tombo
e a situação
se acerta?

.

16.3.10

Notícias de segunda-mão

te aguardo todos os dias
após a novela das sete
sempre pessimista
nunca me faz um bem
porque seu ocaso é uma deriva
um paisagem muito insolúvel
e consigo carrega o que há de pesado
no mundo
só me traz impropriedades
coisas que nem sei o que são
arames, farpas, metais
cacos de vidro sobre o meu teto
e nunca estamos mesmo protegidos
há balas que se perdem
neste ar intolerável de São Gerais de Janeiro

abaixo a vocês, mestres do infortúnio
incansáveis em sua busca pelo não dito
pelo mal feito e o que não se cala
e suas notícias de segunda-mão
usadas e abusadas
sem descanso

mas logo corto seu barato
com um simples toque no botão
que liga e desliga
nossa insensata consciência coletiva

.

Pêndulo 8

uma fagulha
mal condicionada
e o incêndio logo
toma conta da cidade
protesto, boato
triste demais
quem sabe uma sinuca
e a situação
vira verdade?

.

9.3.10

Sociedade desconfortável no sofá

O instinto que protege
toda uma classe
esvai-se
sem mais nem menos
mediante tanta opressão
causa certo desconforto
esse confronto desnecessário
a amálgama não se desfruta mais
e nem a aliança é pertinente
perdemos tempo
muito tempo
em infrutíferas impessoalidades
e concessões absurdas

uns permanecem de um lado
outros nem lado tem
asseclas involuntários
sem preço e sem barganha

e aqui nessas redondezas
não é comum tanto desprezo
o latido dos cães é padrão
a matilha é sempre alerta
e raramente foge ao controle

porém o que se vê é um caos
inventado
e quando menos se imagina
surpresa! tiros na Broadway!
e até agora ninguém se explicou
na cadeia nacional
há ladrões saindo pelos ladrões
e o carro de reportagem
zanzando pelas ruas
esquece que a situação
é caso de polícia


.

8.3.10

Pensamentos

Um pensamento meu
que voa longe
leva pra quem eu quero
leva um afago
leva mais que um aperto de mão
leva meu sonho
minha infalível segurança
e minha gratidão

traga de volta
somente o que mais prezo
que seja um sorriso
um abraço acalourado
uma réplica afinada
qual seja a discussão

a minha incerteza
indelicada
não tem mais grandeza
perdeu o compasso
e saiu a campo em busca
de qualquer coração
desavisado

voa longe, pensamento
e leva junto a minha tristeza
que dessa não mais preciso


7.3.10

Pêndulo 7

o domingo tardio
nas casas só há o plim-plim
aparelhos entretenistas
e a hipocrisia invade a tela
quem sabe um pretexto
e a situação
se revela?

.

A chuva no sertão

A chuva morna
que cai no sertão
não interrompe nem mesmo
o sermão dominical
inunda a terra
serpenteia por sobre os carros
e não para

a chuva não cessa
o grito do carro de bombeiros
tampouco o consumismo
(compra compra compra)
e alaga-se
e transborda-se
e chove sem parar

os meros guarda-chuvas
que transitam incessantes
não fraquejam
há de se chegar
nos mais variados destinos
ainda que chova
pelo resto da vida

.

4.3.10

Pêndulo 6

A vida em sociedade
caiu em decadência
o assassínio
o erário na cueca
agora nada mais abala
quem sabe um trovão
e a situação
se iguala?

.

1.3.10

Se ela soubesse

ah se ela soubesse
dessa minha verdade
dessa invasão, milhões de sobressaltos
uma queda de cada vez
um passo de dança e a gente se encontra
depois de cada rodada

e se ela soubesse
que minha verve mais sensata
empata no meus melhores
quesitos
onde sempre paro e penso
em como é bom estar
ao lado dela

e se ela soubesse
mesmo do que eu segredo em mim
dentro, bem dentro
detrás deste sorriso frágil
uma saudade que insinua
mais do que há de vir
e se mantém constante

e se ela soubesse
que em minha memória guardo
cada olhar, cada nuvem
cada pensamento
todas as suas suaves palavras
e seus gestos particulares

ah, se ela soubesse
e ela não sabe
mas um dia eu conto

Simples certeza

a maioria esmagadora
e a minoria esmagada
não tem jeito
é tudo uma perda de tempo
uma provisão mal concebida
um consolo inaceitável
frustrações
e tapas na cara

a simples certeza
e não haverá mais como
pensaram deveras
e a conclusão é semelhante
a tal contento
e não sem querer
neste contexto
a carapuça não serve mais

.

26.2.10

Esquina amarela

é na esquina amarela
que tudo ocorre
lá nada me surpreende
pois é outono
e as folhas caem sem questionar
seus porquês

lá não há vexame
nem vergonha de se passar
tudo é verdade
não há o que se proibir
nem o que se pensar

as paredes criam olhos
surdas-mudas de nascença
praticam ver o olhar
e soltam fortes gargalhadas

na esquina amarela
existem tijelas
nas janelas
e as vacas falam sem parar

.

24.2.10

Eu contra o resto

Inicio uma crise
já que não tenho mais o que fazer
O ócio degenerativo
extremo atoísmo
Ameaço pular do alto
caso não obtenha atenção

Não obtenho, e nem pulo

Meu para-raios
não tem alternativa
e ignora meu jeito de ser
Abre brechas e
o resto é comigo mesmo

Mas nem tudo está perdido
Sou batalhador, bárbaro e amoral
Se desisto é porque não há maneira
Se continuo é porque há certeza
Os caminhos eu percorro
A senzala eu enfrento
A parede eu contorno
e o resto eu invento

.

23.2.10

Inúmeros

Os números são frios
E não mostram a realidade
Eles competem entre si
Convergem entre si
e são números
e são inúmeros

Os números são cretinos
Números pares
Naturais
Irreais
os números primeiro
e os números segundos
depois

Os números mediram
a farta medida
E foram números
e não disseram nada
além dos números

O números são apenas números
e são tantos
Os números crescem
e se multiplicam
Fatores comuns
inúmeros

.

22.2.10

Destroços

olha
dentro dos meus olhos você pode ver
que nada de repente torna melhor
sem saber haverão tentativas milhares
mas nem mesmo o tempo poderá dizer

sinta
no fundo do coração você pode ter certeza
das inverdades e sonegações que tomaram parte
mesmo assim não quero me sujar
nego enquanto existir justiça

fuja
dessa tão bela sociedade idiossincrata
infiel partidária, nostálgicos referendos
ainda quero te ver ruir, monarca
nas panelas velhas e cheias de lava

creia
mas não perca suas mornas esperanças
sentido breve e muito ilustre, seu somente
perde a vazão, a razão e o preconceito vil
e não recobra a eterna solicitude

.

Pêndulo 5

o arrastão
sintoma de desigualdade
voto nulo, branco
e nada mais
nos compete
quem sabe uma pedrada
e a situação
se reverte?

.

21.2.10

Perene

Ando tão alegre
que não sei qual vai ser o rumo
da minha poesia
Minha tristeza já se esvaiu
meu lamento nem tem mais sentido
Preservo minhas lágrimas, agora
para outras demandas

Minha saudade já não fere
Ajuda a viver completamente
Numa expectativa semanal, diária, horária
toneladas de reencontros
Deixam meus tristes versos sem porquê

A lua não me aplaude mais
Nem o canto do luar semeia pranto
Causa mesmo uma felicidade
Uma vontade
de não sair deste lugar


Welcome home, babe

and then she comes
to enter my door again
back from the streets
the alley, the mill
the outside
and now she comes
returns to what was left behind
my heart, my soul
my ultimate cry
and there she comes
fading every shadow
from this past
upgrading my chances
my latest chances
and so she comes
preserving what we had the most
intending not to do it again

and she comes
and she brings
my entire world
with her

.

Pêndulo 4

a manchete
nervosa
na capa do jornal
mataram, morreram
vingaram
quem sabe um provérbio
e a situação
volta ao normal?

.

18.2.10

Para ninguém

o dia passa
mas a dor não
você acorda
e ela se levanta
com a palavra presa
na garganta
foi tudo em vão
foi tudo para ninguém

você acorda
e percebe que precisa
do que ela tem
e você acha que ela ainda
que ela ainda te quer
mas nos olhos delas não há sinal
algum
de qualquer forma de amor
só há uma parede de lágrimas
de anos após anos
em sofrimento

você acorda
e ela não está mais lá
acha que nunca mais a verá
nem mesmo em pensamento
não a viu partir
não a viu se despedir
as malas estavam prontas
há tempos
e você nem viu

você acorda
e percebe que não divide mais
o travesseiro
você desapareceu
na própria neblina
e o lar dividido na sala
parece um castelo
de altas muralhas

você acorda
e deseja que o dia não se acabe
desse jeito
quer que o seu café não tenha migalhas
que seu banho não seja gelado
quer conversar com as paredes
de dentro do pijama

foi tudo para ninguém
foi tudo em vão
o dia passa
mas a dor não....

.

A única certeza

não quero esquecer
nem ser esquecido
tão cedo
quero crescer
e ver crescido
no mundo
não posso desaparecer
nem deixar desaparecido
o que não resisto
mas insisto
e deixo ser
o que é

sinais de existir
deixo existir
não vou esquecer
pois os lugares me lembram
as pessoas se lembram
do que é
e não deixo de pensar
nem de ser pensado
não aqui
nem em qualquer outro lugar

.

17.2.10

Pêndulo 3

A inveja
covarde
maltrata
torna em crise
famílias e mais
Quem sabe um susto
e a situação
se retrata?

.

Terror nas terras distantes

sussurros
sussurros
gritos no escuro
lamentos
lamentos
perversos momentos
segredos
segredos
confesse seus medos
rangidos
rangidos
pesadelos malditos
beleza
beleza
mas não há beleza

.

Variadas formas

Quando canso
digo que nem sei
Quando quero
digo que nem ligo
Quando parto
digo que te quero
Quando esqueço
digo que talvez
Quando minto
digo que é isso aí
Quando perco
digo que convém
Quando paro
digo que tem jeito
Quando vou
digo que não volto
Quando quero
digo que é agora
Quando entrego
digo que fique
Quando fico
digo que só
Quando sussurro
digo segredos
Quando amo
digo para sempre


.

16.2.10

Dancinha

Dance enquanto há tempo
dance e se acabe
no meio do salão se desfaça

porque chega um momento
em que a música para
e quem não tiver cadeira
dança

.

15.2.10

Pêndulo 2

Sigo, portanto, o padrão
Que não me apetece
Tem maracutaia
tem marmelada
tem papelão
tem sim senhor
Quem sabe um tiro
e a situação
se inverte?

.

Pêndulo

O padrão
a consequência
o intervalo
a suspeita inerte
quem sabe um sopro
e a situação
se inverte?

.

14.2.10

ADULTESSE

A criação
mal feita
na criança
malcriação
bem feita

.

Não moro em L.A.

A noite que não se acaba
estrelas que não me dizem nada
o asfalto desnecessário
e o trânsito indevido
das minhas palavras

E quem está no controle agora?

Reconsidere seus dilemas
porque eles são mínimos
diante dessa imensidão
imigrantes, retirantes
gente de toda parte
que vem, que ficam, que partem

E quem tem o poder agora?

Damas nojentas e seus costumes
extravagantes
despejam sentimentos monetaristas
num sociedade latina, oriental
sem identidade
Samurais dos feudos urbanos
matam-se
perseguem-se
mas não se criticam

E quem tem razão agora?

.

12.2.10

A consolação

Tanta reticência
tanta vírgula fora do lugar
um mar de incoerências
olhares que não se encontram
vociferam maldades e impropérios
inúteis

Tanta sombra
tanto desgosto perpendicular
uma sopa de desencanto
as mãos tacam pedras
e arranham as outras belezas
imperdoáveis

Tanto setembro
tanto tempo sem circular
um pavilhão de inutilidades
palavras de ataque, de achaque
e as falácias de sempre
fúteis

Tanto santo
tanta unção irregular
um cemitério de passantes
vomitam combalências frequentes
esgotam os provérbios e as chances
inúteis


.

9.2.10

O pouco papel

penso nela
e tudo me vem urgente
a inspiração
o mote
o motivo
o sentido

sonho com ela
e tudo clareia intimamente
a vida
a cor
o som o sabor
os sentidos

e coloco-a no papel
mas o papel é pouco
e não cabe


8.2.10

Cruz e Açoite

quer, no calor dos seus braços
superar a tristeza
que assola seu coração
solidão vagabunda
substância profunda
um anteparo na contramão
fazendo gracejos
cuspindo os desejos
da sua clememnte
e desatinada paixão

consola deveras
influencia bem mais
navega por absurdos
compridos submundos
e suspira em paz
sabia o que não era
sentia o que não era
diz só sim
para o que te satisfaz

mas termina sofrendo
amargamente querendo
seu amor, fraternal
sua alma penetra
e seu laço intocável
neste idílio astral

.

Gritos

um verso engasgado
custa a sair
preso na garganta
é um grito sem volta
inflama, distoa
mas sai mesmo assim

prendo a insegurança
e solto vogais no ar


.

7.2.10

Blues de Meu Bem e Eu

Meu bem me acordou no meio da noite
No meio da noite, meu bem me acordou
Sim, no meio da noite meu bem me acordou
Sentada na cama
Usando seu pijama
No meio da noite eu e meu bem

Sentiu uma saudade do meu abraço
Sim, meu bem queria um abraço
No meio da noite queria um abraço
Com cara de sono
E um abraço propondo
No meio da noite eu e meu bem

Mas meu bem também queria um beijo
Meu benzinho queria um beijo
Sim, meu bem queria um beijo
Não podia negar
Também queria beijar
No meio da noite eu e meu bem

E o resto da noite não posso contar
Sim, daquela noite não posso contar
Não posso, não posso, não posso
O que se passa na cama
É segredo de quem ama
No meio da noite, eu e meu bem


.

Minha cidade

a minha cidade
permanece calada
pois o dia ainda tarda
nesta morna madrugada

saúda os notívagos
mas não descuida
do seu silêncio
que interrompe
os mais polêmicos discursos

a minha cidade
é um centro misto
caudaloso centro
conurba asfalto e cimento
nas suas paredes de vidro

a minha cidade
permanece calada
face tanta barbaridade
tanto gesto ingrato
tanto sintoma de tristeza
aparente
na minha cidade

e a vida continua
neste batido
na minha cidade

.

6.2.10

Meu sincero eu

Na parede
Um quadro
Que não é arte
É um espelho
Olho pra ele
De frente
E reflito

.

Contradizem por aí

preciso lhe falar
das coisas que eu não sinto
do que não me incomoda
nem me traz felicidade

vou lhe contar
tudo o que não me satisfaz
sobre o que não é rompante
nem é de repente
sobre o que não me preenche o sorriso

mostrarei a você
o que não me interessa
e nem me faz sentido
o que não me convence
nem me mantém acordado

mas direi-lhe somente a mentira
das coisas que não são mais
sobre o que ainda nem sei
e da vida que não vivo

quero dizer sobre o que não vejo
o que não me dá calafrios
sobre o que não interrompe meu dia
daquilo que não me agrada
nem me faz perder o sono

te conto sobre aquilo que não sinto
tentarei falar somente a verdade
e o que não for eu minto

.

5.2.10

Nem choro e nem vela

são dias ausente
semanas, meses
um velho ano que se termina
e uma vida a frente

carece de sintonia
a prosopopéia itinerante
que retorna sem cerimônia
repentinamente neste dia

e que na mesa posta
agora é carnaval
uma festa boa e informal
do jeito que meu povo gosta

mas não se avexe não
nem arrede o pé
falaremos de tudo que vier
na cabeça e no coração

e falaremos com certeza
da nobreza, do baixo clero
da favela, da senzala
da feiura e da beleza

e aos nos despedirmos
num lapso de tempo despendido
esperamos ter atendido as expectativas
dos ouvintes, dos contribuintes
dos larápios e dos seguros
e quem mais se por um acaso
não incluírmos
quem tivermos sem querer esquecido
nessa nossa memória insignificativa
aos leitores mais exigentes
nos veremos num breve futuro


.

Daquele que se ausenta

se eu não sorrir ao te ver
não estranhe nem se assuste
deixe que meu coração lhe diga o porquê
pois nada mais terei a dizer
além das palavras do meu semblante

quero me redimir
te entregar o que é seu
devolver minha gratidão
mas saiba, amor
que o que era meu
não passou do anteontem
e agora jaz no passado

mas escuta, amor
não é culpa sua, nem nossa
uma luta perdida
um desabrochar nervoso
de uma rosa sem cor

mas saiba, amor
que se um dia não fomos felizes
não tardou a noite chegar
e nos tornamos mais sós
a madrugada será sempre bandida
e infiel, cá pra nós

não chore, então, amor
que as lágrimas são o seu desperdício
demagogo
uma chuva inesperada no deserto
sua face enganadora

não se desfaça, amor
não nesta hora
peço-lhe o perdão inútil
e despeço-me sem mais senão
até outrora


.

4.2.10

O fácil é o certo

Por que ninguém me avisou
Que seria tão difícil?
Que a vida teria tantos desafios
Que eu seria levemente testado
Em todos os instantes?
Uma auditoria sem sentido
Um fracasso expectador
Uma graça inalcançável
Um ar gelado e impenetrável
Ao meu redor?

Por que não fui avisado
Que haveria tanta coisa
Tanta interposição
Tanto preconceito
E tanto ciúme besta
Tanta fortuna sem dono
Tanto costume mal aproveitado?
Que ainda assim nunca estaria pronto
Para toda essa vida, para todo esse teste?

Ninguém me falou
De vida após a vida
De sonhos dentro de sonhos
De mentiras e inverdades, de falsos ídolos
E mistérios sentimentais
Não me falaram da imperfeição
Dos sobressaltos
Das maravilhas e das agruras do amor
E suas conseqüências
Ninguém me falou sobre a tristeza
Sobre a solidão
E sobre a poesia

Por que ninguém me avisou que não seria fácil?



.

29.1.10

05 ANOS


05 anos se passaram desde o primeiro post. Na época blog era o hype do momento. Chegar no meio dos amigos e dizer: "Eu tenho um blog" era um meio muito bom de se chamar a atenção para si mesmo.

Entretanto, o intuito do blog nunca foi esse. Expandir os limites da poesia, comunicar, incentivar, mostrar, inspirar. Isso sim.

Não vamos comemorar os 05 anos, porém. Nem bater palmas, nem soprar velas. Vamos comemorar que há mais 05 anos por vir. Mais 10, 15. Mais décadas de inspiração, de bons frutos, de boas energias e pensamentos sempre positivos. Muita pureza e muita poesia nesses corações.

Forte abraço a todos os desvalidos desse Brasil.

Ciclo

Nasce
A vida porca
Na fria sarjeta
Debaixo do poste
O lixo suburbano
A desigualdade
De porre
O pobre
Morre


.

28.1.10

Na cabeça e no coração

Vai se desfazendo com cuidado

Na hora exata e sem pressa

Um martírio de vários dias

Que enxerga uma hora o fim


A finalidade em si é inversa

Suprime qualquer investida

Ataca sorrateira, de surpresa

Deixa marcas

Feridas que trarão lembranças


Não há como fugir

Relapso obstáculo

Incremento de um simples segundo

De um momento, uma maneira

Uma vida inteira

Sem sentir toma conta

Afasta os piores medos

Atrai as mais variadas incertezas


Saudade passageira

De nada te adianta

Ser tão exigente

Mas cedo ou tarde

Necessária

Correlata em seu ciclo

Infiltra nos passaportes

E não impõe desvantagem


Deixa feridas

Lembranças que trarão saudade


.

Cadeira vazia


Obediente em seu canto

Em busca de um contato

A cadeira vazia permanece

Descansa sem se cansar

Espera paciente

O dono do lugar

Que na verdade

Nunca saiu

Só demora a voltar

A cadeira vazia está lá

No mesmo local


Sua solidão não dói

Nem aflige

Trata logo de quedar

No dia, na madrugada

Anos a fio

Invernos, verões


Mas permanece vazia

Inútil

Em pensamentos já foi trono

Já se aboliu sua

Escravatura

Conspirou-se

Na sua companhia

Foi apoio de muito conselho

Ideais, levantes

Esconde o idílio do passar do tempo

Eras se passam

Pessoas vão e não volvem


E vazia fica

A cadeira antiga

Que espera paciente

O dono do lugar


.

Simpatetico

Um descompasso

O desperdício

Na sua tela

A falta de compromisso


E sobra sal e mar

Um olor, horror

Pedaços de mal feitorias

Distribui ângulos

Primos, incorretos


Símbolos sonoros

Suaves, predicados

O resto é prejuízo


.

O incrível protesto

Meu protesto involuntário

Não vacila nem adorna

Sai vazio e cabisbaixo

E uma falácia então se torna


Cai triste e amargurado

Seu sintoma de derrota

Sua alvura natural

Sua verve poliglota


Mas caminha desolado

Meu protesto, protestinho

Não era mesmo de nada

Só mais um grito sozinho


Uma trovoada desprendida

À toa, pelo visto

Um costume, um desabafo

Um grito de improviso


Mas o apelo é transigente

E começa a tomar forma

É desvalido agora

Mas em breve se contorna


E se desfaz


.

23.1.10

Triste mentira

Quem foi que te disse

Da sua imperfeição o elogio?

Da sua ingratidão

O sorriso satisfeito?

Do seu carnaval

O frevo frenético?


Quem lhe mentiu

Falando das suas artes modernas

Dos seus objetivos claros

E das suas falas sinceras?

Do seu trejeito incomum

Da sua briga imoral

Do seu espelho

Seu narcisismo fatal?


Não te disseram

O que sentem

Fajutos

Larápios

Te agradam com o melhor vinho

A boa costela de carneiro

Mas

Te atacam com a língua supérflua

Nas suas costas recém viradas


Quem foi que te disse

Do seu olhar o

Sentimento?

Da sua alma fraquejante

O aquecimento?

Na sua solidão

O acalanto?

No seu terremoto

A salvação?


.

Polêmica

a polêmica
estática
não foi transferida
a tempo
causou
mexeu
e parou

virou alvoroço
virou fofoca
na mão dos insensíveis
e pobres mortais

.

A rosa

A rosa faliu

A flor do teu nome

Não se despediu

Criou pranto

Na soleira

E foi embora


A rosa perdeu

Saiu na escuridão

Vigiou

Curou a enfermidade

De seu coração

E fugiu


A rosa mentiu

Galhofas e inverdades

Cansaço

Sentiu que era tarde

Que não tinha medo

E sumiu na vida


A rosa esqueceu

De quem a tratou

De noite é sorrateira

E de dia se manifesta

Nefasta

Cai no próprio esquecimento


A rosa partiu

Acocorada

Caiu do seu ramalhete

Do seu buquê

E agora não é mais flor

Só carrega espinhos

E mágoas


.

20.1.10

Sabedoria virtual

São grandes as incertezas desta vida

Mas que nada nos afaste de nós mesmos

São obscuras, predatórias

As mudanças


O confinamento, indolente

Mantém o refém de espírito fraco

Numa redoma de impessoalidade

Catastrófico, seria dizer

Se não mais sincero, por si só


Onde estão as revoluções?

Os gritos de guerra, a revolta

O impasse?


Pouco se sabe

Nessa onda de full-knowledge

Verdades quase perfeitas

Notícias de anteontem sem edição


Cabe a eles o diagnóstico

Pois, expertises a parte,

Somos ignorantes de pai e mãe


.

Sua nova cor

-->
Espero ansioso a sua volta
Seu retorno
Sua nova passagem
Seu abraço, seu contato
Seu novo som

Aguardo em tons de azul
Índigo
Que você venha
Com a cabeça feita
Seu novo modelo
E sua nova cor

Preencherei a espera
Com sua lembrança
Naquela interior
E amiúde
Certeza
Da sua não tardia
Presença

Aguardo o seu dia
Sua hora na minha vida
Seu longo estar
Sua maneira de vir
E mudar
Tudo ao meu redor

Quero saber de você
De seu mundo
Do seu por do sol
Da sua lua
Do som do seu mar
Da sua nova cor


18.1.10

Domingo

Na bela manhã de domingo

A relva ainda suada

Destila seu presente

Entre os ruminantes

Que permanecem

Em sua pacata existência


Nas fazendas e latifúndios

Não se diz nada além do essencial

“Corte mais cana, Manel”

“Lace o touro, Juvenal”

“Solte as vacas no pasto de baixo, Junim”

Não sem alegria

O vaqueiro interrompe a ordenha

Para apreciar o dia


As pessoas nas portas das casas

Alegremente desejam seu bom dia

Aos transeuntes

Varrem folhas, calçadas

Enquanto o feijão cozinha no fogo

No velho assovio da pressão


A estrada silencia

Com a passagem do ciclista

Que respeita, sobretudo

Aquele equilíbrio intimista


E na cidade

Os pedestres se acotovelam

Na disputa da surpresa do almoço

“O frango é pouco, minha gente

façam fila que ‘tá acabando de assar”

Diz o moço da padaria


Enquanto isso, o apito do trem

Anuncia mais uma vez

A interrupção diária

Do progresso


.

16.1.10

Crime sem castigo

Cometi um crime

Cujo único culpado sou eu

Confesso e me entrego

Quero cumprir a pena devida

Não há testemunhas

Nem vítimas

A vítima sou eu

As provas veladas

Carrego comigo

Não haverá fuga

Acusem-me

Façamos a reconstituição

Julguem-me e condenem-me

Meu crime não está nos códigos


Cometi um crime

Amei demais


.

Estado de graça

o aviso de pare

a placa de contramão

a via interrompida

o sentido contrário

o dia que nasce

a noite que se vai

o alcoólatra são

o errado itinerário

o medo costumeiro

o pedido autoritário

o tiro certeiro

o alvo aleatório

a fama do impostor

o crime compensado

o ocaso ingrato

o fim revelador

o vento no corredor

sem janela sem nada

a brisa terrestre

o clima atraente

a montanha do cipestre

o grito do poeta

a sinceridade do maestro

o conclave da decisão

a intensa batalha

a imensa crisálida

a grata fortuna

a preciosa rotina

o cansativo trabalho

o superior sobressalto

a síndica maldita

a esquina que não fecha

a loja das conveniências

a fruta sem bicho

a criatura sem nicho

sem ninho sem nada

a palavra errada

a hora que passa

o prefeito aceitador

o sacristão pecador

o imposto isento

o cretino deposto

a última esperança da terra

a verdade intensa

o enterro sem choro

sem vela sem nada

o nosso sentimento terreno

e a chama que não se apaga


.

Tenso

olho para o céu
em busca de algum tipo
de esperança vã
conclamo perdões
antecipo atrasos
cancelo compromissos
e disparo balas anônimas
com minha metralhadora
taquilárica

aviso antes de tudo
do meu jeito especial
maltrato a situação
comporto-me mal
insinuo indiscrições
e sombreios
de pura discórdia

mantenho a tensão
tento não me envolver
ando pelas ruas
sem prestar muita atenção
sem pestanejar
e sem causar muito impacto
nas pessoas

.

15.1.10

A metade exata

Na metade exata

Percebo que falta muita coisa

Falta tempo, falta espaço

Sobra o silêncio


Na próxima metade

Quero correr menos risco

Prefiro ser mais fiel

Ao que eu sinto

Morrer e viver de amor


Não chore não, criatura

Que ainda sou seu admirador

Que espera sorridente

Seu regresso pacificador


Falta pouco agora

O pior já passou

Somos infantes

Mas superamos todas as possibilidades


.

Festa interior

Aguardo o convite

Para um festejo particular

Não sou bem vindo

Sou em estranho em minha própria alma

Carrego comigo estranhos tormentos

Que não se calam um segundo


Pratico o discurso

Diante do espelho

Que insiste em refletir a mim mesmo

Nesse baralho de naipes marcados

Sou um ilegítimo filho do rei

Preposto insignificante da luta armada


Passo os dias vendado

Para não me sentir tão ansioso

Silenciosamente me acomodo numa cama

E preparo o espírito para a noite seguinte


Quebro a promessa

Afundo num licor

Sem cerimônia alguma


.

14.1.10

O não-soneto da saudade

-->
E ela vai
Caminhando em meus pensamentos
Percorre meu momento
Louco e compenetrado
De lembrança focada

Lá vai ela
Naquela esquina e todas mais
Naquele rosto e todos mais
Em seu perfume
Sem nome
E pra que nome?

Lá vai ela
Morena, singela
Encantadoramente bela
Passeando nessa outrora
Invadindo o que não é meu
Perturbando meu ócio
Meu instante de criação
E ela vai
Tragada pelo tempo
Na medida do que é
Da estreita e ligeira distância

Vai, menina moça
E apareça sempre que quiser



Horas a fio

A primavera se foi

Agora observo o tempo

Observo a cidade

Contemplo o concreto

E interpreto

Do meu modo


No beiral do arranha-céu

Antecipo a tormenta

A vida escurece

Como as nuvens

E demora a passar




.

13.1.10

Presente de troiano

Para você

Uma sombra e uma água fresca

Um colírio e um cigarro

Um pedaço de bolo

Um laço e uma hipoteca

Na casa do lago


Para você

Um perdido e um mapa astral

Uma façanha e um chafariz

Um sistema e um convite

Pra festa do governador


Para você

O cabide e o empregado

Um correio e um inteiro

A semana retrasada

E o dia de amanhã


Para você

Um pedido de desculpas

Uma curva no escanteio

A lástima derradeira

No minuto final


Para você

Aquele abraço gostoso

O velho enxadrista na praça

A aflição do leitor pelo epílogo

No livro emprestado da biblioteca

Municipal


Para você

A continência do general

O resgate e o funeral

A rosa branca e a saúva

A fruta e o supra-sumo

Na manchete do jornal


.

12.1.10

Amor nos tempos da inflação

A crise

Atingiu o amor

Não sorri

Não pega nessa mão

Não tem abraço

Só críticas construtivas

E perguntas

Dúvidas sem planos B

Nas mais castas plataformas

O amor específico

Não sem mais alternativa

É evidente

Seu decaimento

Sua falta de validade

Perdeu o amor

E invadiu

As terras longínquas

Porque a crise é grossa

Rude

E a crise não tem jeito

A crise atingiu o amor

No caminho pra casa



.

11.1.10

Telefone - O sem solução

Espero por aqui
um ligação que não vai acontecer
assumo que é triste
sofrer nesta hora
que insiste
ah, insiste
em permanecer
e ser a mais dolorosa

Futrico no papel
desenho, rabisco
imagino cavalos e castelos
belas montanhas
esferográficas
enquanto espero

O telefone não toca
gesticulo, sussurro
Verbalizo mil impaciências
Monólogo estranho
Perante o aparelho
de encurtar distâncias

A mesa recebe meu impulso
de violência desmedida
desferida
sem querer
E o telefone que insiste
ah, insiste
em se manter calado
é um bichinho obstinado
sabe de seu poder
que modifica
e mudo fica

Quebra logo esse anseio
meu parceiro
Tira de mim a aflição
toca o seu toque indiscutível
o seu chamado
me leva ao encontro
do que eu mais quero

Mas não acontece
suas linhas ocupadas
distâncias importantes
barreiras transpostas
sem jura nem mora
meu caso é um desnexo
um simplesmente
uma espera

E espero amargamente
ao lado de um telefone que não toca
um mensagem de alguém
a fonética grata
digna da minha saudade


.

100 mais para o momento

Completa-se com este a centena de postagens. Agradeço aos que visitaram, aos que visitam e aos que visitarão. Aos que agrado, aos que repudiam, aos que palpitam, aos que comentam, aos que se calam, aos que inspiro, aos que me inspiram, aos que somem, aos que aparecem. Aos que refletem, àqueles que confirmam, aos que negam, aos que incentivam, aos que desistem, aos que tentam, aos que conseguem. Enfim. Obrigado a todos, sem exceção.

Prossigamos com a vida, que a vida é alegria, e viver é poesia.

Abraços saudosos.


PS - estamos só começando!



Título da foto: Apreciando o momento. by http://juliofotos.com/

10.1.10

Aprendizado

Quando vamos aprender

Desta louca rotina

A verdade maligna

O presente consistente

A identidade putrefata

A mente inconseqüente

E os perigos e mistérios

De sermos apenas humanos

De sermos ainda normais

Intransitivos

A divina perfeição

Encurtada pela vida

Clara e límpida, audível

Sonora no auto-falante


Quando vamos aprender

Do itinerário que não está nos mapas

Do arrependimento e do medo

Da estrutura falida

Da magia corrompida

Do instinto sombrio

Inerte

Se fossemos apenas humanos

Seria mais fácil


Quando vamos aprender

A lidar com o tempo

A evitar a incerteza do futuro

Do sangramento incendiário

Da perda irredutível

O cristal que não se quebra

O silêncio que refresca

A morte que não agrada

Nos tomates atirados

No pano que cerra

Vamos aprender


Vamos sim, um dia, aprender

A sermos humanos

A sermos mais nós

Do que os outros

Assim será fácil

Aprender


E sobreviver



.

8.1.10

Manhã seguinte

faço um poema
pra lembrar de nós dois
de nossa viagem
de nossa saudade
da nossa imensa sensatez
crio um verso
empírico, honesto
deste gesto
e declamo
sem jeito
estes e outros sonetos
sentencio portanto
a palavra
subscrevo-me
perante o adjetivo
e trago uma sinceridade
marcada
na ponta do lápis



7.1.10

Nono

Sigo nesta lida

Sem parar pra pensar

Convoco minhas forças

Meu sentimento e meu íntimo ser

Neste papel que me é cúmplice

Nesta meia-vida


Aflijo-me sem porquê

Não sofro, mas é farta a dor

Minhas chagas de outrora

Insensíveis feridas

Que agora se fecham

Cessam e se calam


Minha alma agora é particular

Se renova a todo momento

Crê no que sinto e se compartilha

Não falo mais sobre problemas

Nem sobre prognósticos falsos

Apenas lembranças ficam

O futuro é belo

E incipiente

Logo chegará carregado da tão aguardada

Novidade




.